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MODALIDADE EDUCACIONAL- EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA)                            

         O público da Educação de Jovens e Adultos (EJA) faz parte do retrato das desigualdades sociais e econômicas no Brasil. Temos 30% dos alunos da EJA com idade entre 15 e 19 anos, segundo o Censo Escolar de 2017. A presença de adolescentes neste espaço se dá porque muitos precisam trabalhar no período diurno, mas não querem abandonar os estudos. Também por causa da distorção idade-série resultante de uma cultura de fracasso escolar. Com isso as unidades escolares que trabalhava com a modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) carregam a responsabilidade de não excluir estas pessoas novamente.

             A modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) contempla o atendimento do público que por dificuldades ou problemas diversos na trajetória de vida não teve condições de continuidade ou acesso aos estudos formais, tanto no Ensino Fundamental como no Médio, na idade apropriada. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, artigo 37, parágrafo 1°:

Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames (BRASIL, 1996).

             O Plano Municipal de Educação (PME) de Caém na sua meta de n° 8, objetiva:

Elevar a escolaridade média da população de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos de modo a alcançar o mínimo de 12 (doze) anos de estudo para as populações do campo, bem como igualar a escolaridade média entre negros e não negros, com vistas à redução da desigualdade educacional (CAÉM, 2014). 

        Para tanto, o município investiu na melhoria da infraestrutura de suas escolas, bem como na aquisição de equipamentos tecnológicos, além de realizar anualmente nos últimos três anos, a busca ativa por pessoas em idade escolar, que se encontravam fora da escola, usando diversas estratégias, inclusive com visitas domiciliares. Ainda assim, não foi registrado aumento significativo nas matrículas para essa modalidade, o que nos leva a refletir ainda mais, o quanto a escola precisa se reinventar para dar conta das demandas desses educandos.

       Um dos grandes desafios da modalidade é construir pontes, que possam aproximar os sonhos, adiados desses alunos, em um determinado período de suas vidas, adaptando as novas possibilidades que o momento de vida atual se apresenta. Isso requer práticas educativas de acolhimento a esse sujeito, possibilitando o resgate de sua autoestima, articulando desejos, ideias e projetos de vida. O currículo da EJA precisa articular tanto o desenvolvimento de conhecimentos formais das ciências e da cultura como as competências socioemocionais dos sujeitos.

        Não se concebe a elaboração do referencial curricular, sem o envolvimento do principal ator do cotidiano escolar: o estudante. Essa máxima moveu o município de Caém a elaborar atividades de escuta a todos os estudantes da rede municipal. Segundo os alunos da EJA I e II, ciclos da rede municipal, é urgente a utilização de uma metodologia que aproxime os conteúdos com suas respectivas realidades imediatas, trazendo situações cotidianas, temas e problemas relacionados e contextualizados com lugar onde vivem, pois, entendem que esta prática pode tornar as discussões bem mais “atraentes”, fazendo com que percebam a utilidade dos conhecimentos tratados na escola e seu uso na vida em sociedade.

        O trabalho com turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) deve ser pautada pela flexibilidade do currículo, com desenvolvimento de atividades diferenciadas, valorização de atividades culturais, recreativas, esportivas, dentre outras de socialização; estimular o desenvolvimento de competências para o trabalho e constante motivação dos jovens e adultos, tendo em vista a permanência e continuidade dos estudos (CNE, 2010). Perpassando pelo reconhecimento da identidade cultural dos educandos, do seu modo de vida, da condição de trabalhador, se assalariado ou do mercado informal, ou mesmo desempregado, da organização da sociedade da qual está inserido, da comunidade, do local e territorial. Em outros termos, considerando à realidade sociocultural e econômica dos alunos, proporcionando uma educação contextualizada e para a vida.    

       Não raramente encontramos no município, principalmente na zona rural, jovens que engravidaram precocemente ou sem planejamento, e diante nessa nova condição, abandonaram a escola. Tal realidade, nos remete a necessidade da criação e desenvolvimento de habilidades específicas relacionadas à saúde, ao corpo e a sexualidade, ente outros aspectos relacionados; a criação de habilidades que envolvam conhecimento do protagonismo da mulher na sociedade atual -  articulando os saberes escolares às demandas da vida real.    

          Conforme foi estabelecido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação e Jovens e Adultos (Resolução CNE/CEB n° 1, de Julho, de 2000), os princípios orientadores da modalidade deverão ser pautados por: equidade, diferença e proporcionalidade. Sendo assim, entendidos:

I - quanto à equidade, a distribuição específica dos componentes curriculares a fim de propiciar um patamar igualitário de formação e restabelecer a igualdade de direitos e de oportunidades face ao direito à educação;

II- quanto à diferença, a identificação e o reconhecimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus conhecimentos e valores;

III - quanto à proporcionalidade, a disposição e alocação adequadas dos componentes curriculares face às necessidades próprias da Educação de Jovens e Adultos com espaços e tempos nos quais as práticas pedagógicas assegurem aos seus estudantes identidade formativa comum aos demais participantes da escolarização básica (CNE, 2000).

        Um dos grandes desafios para a modalidade educacional tem sido a manutenção dos jovens e adultos em sala de aula, a garantia da aprendizagem e a continuidade dos estudos. Levanto em conta tal aspecto, a expectativa sobre o trabalho de ensino-aprendizagem com o público de EJA é de se ter um olhar para a singularidade dos educandos. Nesse sentido, é importante notar qual a origem social dos estudantes, a raça/etnia, a faixa etária, o gênero, a cultura geracional, quais suas experiências, quais os interesses, motivações e perspectivas de vida. Em outros termos, a sensibilidade para a escuta ou um diagnóstico da vivência concreta e dos interesses do público, assumem uma condição precípua, mecanismo de criação de pontes, canais de diálogo para a construção dos saberes, da aprendizagem dos conteúdos, das habilidades e das competências elencadas nos objetivos de aprendizagem. Como ensinou, o professor Paulo Freire, referência maior no trabalho com Jovens e Adultos, as diferentes etapas do seu método:

Etapa de investigação: em que a busca era conjunta entre professor e aluno das palavras e temas mais significativos da vida do aluno, dentro de seu universo vocabular e da comunidade onde ele vive.

Etapa de tematização: que era o momento da tomada de consciência do mundo, através da análise dos significados sociais dos temas e palavras.

Etapa de problematização: momento em que o professor desafia e inspira o aluno a superar a visão mágica e acrítica do mundo, para uma postura conscientizada (FREIRE, 2000, p.32).

           De tal modo, no processo de educação de Jovens e Adultos, além dos princípios e da observação das peculiaridades inerentes ao público atendido, deve-se ressaltar a importância da metodologia de trabalho. Levando em consideração a abordagem freiriana, o ponto de partida passa pela investigação, pela contextualização com a comunidade, pelo cotidiano, pelos saberes e experiências de vida e trabalho dos estudantes; para então, chegar a problematização, momento de construção de um entendimento complexo, de elaboração de um pensamento crítico e transformador da realidade que o circunda. 

        Nessa perspectiva, seguindo a proposta freiriana, o educador se relaciona com o educando, num processo de construção de diálogo, interagindo juntos em um único foco, a descoberta mútua do saber. Segundo Freire, a relação professor-aluno:

Para ser um ato de conhecimento o processo de alfabetização de adultos demanda, entre educadores e educando, uma relação de autêntico diálogo. Aquela em que os sujeitos do ato de conhecer (educador-educando; educando-educador) se encontram midiatizados pelo objeto a ser conhecido. Nesta perspectiva, portanto, os alfabetizados assumem, desde o começo mesmo da ação, o papel de sujeitos criadores. Aprender a ler e escrever já não são, pois, memorizar sílabas palavras ou frases, mas refletir criticamente sobre o próprio processo de ler e escrever e sobre o profundo significado da linguagem (FREIRE, 2002, p. 58).

          Por isso, destaca-se a importância do papel do alfabetizador no processo de ensino-aprendizagem, principalmente com alunos da EJA, visto que é, uma tarefa cautelosa e delicada, pois, os estudantes já trazem consigo uma bagagem de conhecimentos, e isso torna tarefa cuidadosa para o alfabetizador, ou seja, possibilitar o desenvolvimento de competências que os alunos precisam desenvolver a partir da junção com o conhecimento prévio que o indivíduo já possui. Construindo assim, um processo de ensino e aprendizagem contextualizado.

        Percebe-se a necessidade de um olhar cuidadoso com o público da EJA, que não seja visto como um anexo, mas uma modalidade que necessita de uma atenção cuidadosa e diferenciada. O que perpassa pela formação continuada dos professores e demais profissionais, que atuam com público; um currículo apropriado a modalidade, flexível e a aberto as mudanças, implicado com a vida dos estudantes e direcionado aos sujeitos, na sua diversidade e singularidade. No currículo e demais documentos que nortearão e conduzirão a boa qualidade da EJA, além de contemplar o que diz respeito a pedagogia e a didática, com a formação docente, as metodologias e materiais pedagógicos específicos, é preciso garantir que o tempo-espaço escolar, recursos e merenda devam ser adequados ao público estudantil. Portanto, é preciso promover o direito a uma educação de qualidade para a modalidade, uma educação que garanta a construção do conhecimento, valorize a diversidade cultural, reconheça o aluno produtor do seu conhecimento e seja capaz de promover um diálogo horizontal de saberes: científicos e do senso comum. De forma que, proporcione uma educação dialógica e libertária.

         A educação precisa estar pautada nos pilares do “aprender a ser, aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver”. A articulação do mundo do trabalho e desenvolvimento do Projeto de Vida, podem ser molas impulsoras de conhecimentos em diversas áreas, cujos conteúdos dever ser discutidos, mas também estudados de forma prática, através de aulas/oficinas, explorando o artesanato e a reciclagem, promovendo a troca de experiências do trabalho dos próprios alunos, ensinando aos colegas; por meio de pedagogias ativas, estudos de casos, problematizações, projetos de pesquisa, temas sugeridos pelos alunos e/ou originários de situações sociais, que as comunidades estejam vivendo, ou viveram, que foram significativas e/ou causaram impactos na vida das pessoas.    

        A realidade de distorção idade/ano, que gera a cada ano, novos contingentes de estudantes para a EJA, com um público juvenil, cuja maioria não está inserida no mercado de trabalho; somada a realidade de pessoas adultas que precisam estudar à noite, pois, trabalham durante o dia para seu sustento e da família, ou ainda, do sonho de pessoas idosas de aprender a escrever seu próprio nome, temos uma modalidade complexa, diversa em suas características, seus interesses e motivações. Faz-se necessário e urgente que tenhamos propostas pedagógicas diferenciadas para este público tão distinto. 

        Ao pensar no referencial curricular do município, é gritante a necessidade de se criar um EJA diurno - Tempo Juvenil - que acolha as expectativas e necessidades, dentro do dinamismo da juventude caenense, centrada na proposta de desenvolvimento do Projeto de Vida, que possa lhe oferecer a possibilidade de sonhar, de criar expectativas de vida, de promover a autoestima e a construção desse cidadão em formação.

     Além do organizador curricular da BNCC, adotado pelo Currículo Municipal de Caém, apresentamos Eixos Temáticos, distribuídos nas 3 (três) unidades didáticas, que devem ser trabalhadas ao longo do ano letivo, para a modalidade, contemplando os Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamental, tendo a unidade escolar a autonomia para fazer os devidos ajustes pedagógicos de modo a contemplar todas as turmas, de acordo com as situações e níveis de aprendizagem, perpassando por todas as áreas do conhecimento, como gatilho disparador dos conhecimentos e conteúdos que serão trabalhados, inclusive com a produção e/ou aquisição de materiais didáticos específicos.

EIXOS TEMÁTICOS POR UNIDADE DIDÁTICA

I UNIDADE DIDÁTICA:

  • Construção da identidade individual e coletiva: quem sou eu? Qual meu lugar no mundo? Onde estou e onde pretendo chegar? Na perspectiva dos direitos e deveres de todo cidadão e cidadã.

DETALHAMENTO

  • Quem é você? Sua posição e situação familiar.
  • Quem é você no seu município?
  • Você conhece a história do seu lugar? Conhecendo seu município, com olhar crítico, reflexivo, se apropriando de sua história, sua infraestrutura, poderes, aspectos históricos, geográficos, cultural na convivência com povos ciganos, negros, índios, etc.  Indicadores de qualidade de vida, desafios, possibilidades e projetos de vida.

II UNIDADE DIDÁTICA

  •  O homem e suas invenções na perspectiva das relações de produção cultural, econômica, relações sociais, com meio ambiente e seus projetos de vida na perspectiva do reconhecimento e respeito a diversidade.

 DETALHAMENTO

  • A história das coisas, invenções e seu contexto e valor histórico, social, econômico e cultural a partir de objetos e instrumentos de uso individual e/ou coletivo de interesse da turma, conhecendo objetivo e forma de produção, comercialização do produto e impactos sociais.
  • Construir/ se apropriar do conceito de empreendedorismo e protagonismo social nas diversas fases da vida (juvenil, adulta, terceira idade) com olhar crítico a partir de atividades práticas e /ou de pesquisa a partir de problemas das demandas locais.
  •  Conhecer as estruturas econômicas primárias, secundárias e terciarias partindo do contexto local para o global.

III UNIDADE DIDÁTICA:

  • O papel do cidadão e a influência das mídias no controle social e os impactos na vida humana.

DETALHAMENTO

  • Direitos e deveres do cidadão na perspectiva da Constituição Federal;
  • Direitos do consumidor;
  • Estatuto da Criança e do Adolescente;
  • Estatuto do Idoso,
  • Lei Maria da Penha;
  • Associativismo, cooperativismo;
  • Projeto de Vida;
  • Serviços, políticas públicas, patrimônio, poderes públicos e o papel do cidadão no controle social;
  • Estrutura dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.

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