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DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

  DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

      A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica vem dar a esse segmento o status que a sua importância requer, quer seja pela responsabilidade de ser o primeiro contato da criança com o mundo escolar, quer seja pelo desafio de cuidar e educar ao mesmo tempo, ou ainda de iniciar o processo de aquisição de competências e habilidades que farão dessa criança o cidadão que um dia virá a ser.
     Mesmo antes da chegada da BNCC, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) já estabeleciam o cuidar e o educar como dimensões distintas, porém indissociáveis. As ações do cuidar estão totalmente integradas as ações de conhecer, explorar o mundo, de interação com o outro, de apropriação e conhecimento do próprio corpo na construção de conhecimentos. A medida que se cuida da higiene do corpo da criança, o adulto vai nomeando as partes do corpo, toca na criança com respeito, vai narrando o que e porque vai fazer tal ação, vai estabelecendo relações de confiança, vai possibilitando aprendizado do corpo, cria-se uma rotina de atividades dando a criança uma sequência lógica, significativa e prazerosa dos acontecimentos.
       O professor precisa perceber a importância dos cuidados que ele tem com a criança e como isso o permite transmitir para os pequenos uma segurança afetiva, que os ajudará a desbravar os conhecimentos do mundo ao seu redor e desenvolver a autoestima, a autonomia. A confiança que ele adquire ao cuidar de si cria possibilidade incontáveis aprendizagens para a vida e que permeia conhecimentos em todas as áreas da vida humana e do convívio em sociedade. Não se trata apenas de dar comida, ou trocar a fralda, são ações valorosamente educativas, que fazem parte da lida diária do professor de Educação Infantil.
        O espaço do refeitório pode ser usado para exposição de trabalhos das crianças, de réplicas de obras de arte para apreciação de todos. A organização e a limpeza desse espaço pode ser assunto conversado durante as refeições, a decoração que estimule uma alimentação saudável, levando-os a conhecer e valorizar o trabalho das pessoas que cuidam delas diariamente. Tudo isso vai agregando valores a esse momento de refeição, mas também de interação, de convívio social e cultural.
    A Educação Infantil deve ser o espaço para acolher as vivências e os conhecimentos das crianças no convívio familiar e social, articulando e legitimando esses saberes a sua proposta pedagógica, que vem impregnada de valores e conceitos acerca da compreensão de infâncias, de cidadania, do papel do professor, da família, de currículo, etc.
    A palavra criança vem do latim ‘creare’, do mesmo radical que derivam as palavras ‘criação’ e ‘criatividade’. A criança por si só é curiosa, observadora, características de um bom pesquisador. Se movimenta e busca sempre novas descobertas, usa todo seu repertório para solucionar os desafios do dia a dia. Essa é a criança, centro de todo nosso trabalho, que ao adentrar o mundo da escola, precisa que o professor se posicione enquanto mediador. Que o professor conheça suas características, seus interesses, suas possibilidades e planeje atividades que lhes garanta os direitos de aprendizagem: conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se, como ser integral, complexo e subjetivo.
    O trabalho na educação infantil, da creche a pré-escola tem o desafio de promover o desenvolvimento dessa criança garantindo os direitos de aprendizagem por meio de brincadeiras e interações. O que nos traz um grande desafio, no sentido de olhar para as dez competências gerais da BNCC, mas sem perder de vista características distintas das infâncias. O desafio de romper com a ideia assistencialista, sem negar a importância do cuidar, assim como, precisa romper com o pensamento de ser uma fase que antecede e prepara para o Ensino Fundamental; mas que propõe o desenvolvimento integral da criança.
      Aprender brincando já estava posto desde os Referenciais Curriculares Nacional para a Educação Infantil - RCNEI em 1998 que diz: na brincadeira, os sinais, os gestos, os objetos, os espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparenta ser, através do brincar, a criança tem em suas mãos a possibilidade de lidar estabelecer relações com os outros e com ela mesma”. A brincadeira estimula a atenção, a concentração, o desenvolvimento das linguagens, gera autoconfiança.
Atualmente ainda se vive a dualidade entre o alfabetizar ou não alfabetizar na Educação Infantil. O que exige a clareza acerca do que se entende por alfabetizar.
Alfabetizar como decodificação de signos linguísticos, ou alfabetizar na perspectiva do letramento. Para Soares:   

 [...] a função da escola, na área de linguagem, é introduzir a criança no mundo da escrita, explorando tanto a língua oral quanto a escrita como forma de interlocução, em que quem fala ou escreve é um sujeito que em determinado contexto social e histórico, em determinada situação pragmática, interage com um locutor, também um sujeito, e o faz levado por um objetivo, um desejo, uma necessidade de interação (SOARES, 2001, p. 13).


        Corroborando o artigo 29 da LDB, o RCNEI discorre sobre a necessidade do desenvolvimento integral da criança ao afirmar que: Embora haja um consenso sobre a necessidade de que a educação para as crianças pequenas deva promover a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e sociais da criança, considerando que esta é um ser completo e indivisível, as divergências estão exatamente no que se entende sobre o que seja trabalhar com cada um desses aspectos.

 

[...] O desenvolvimento integral depende tanto dos cuidados relacionais, que envolvem a dimensão afetiva e dos cuidados com os aspectos biológicos do corpo, como a qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde, quanto da forma como esses cuidados são oferecidos e das oportunidades de acesso a conhecimentos variados. (BRASIL, 1998a, p. 17 e p. 24).

        Bebendo na fonte de Magda Soares, entendemos que cabe a Educação Infantil inserir a criança no mundo da linguagem, mas essa inserção precisa ser feita considerando seu desenvolvimento integral, nas áreas afetiva, cognitiva, social, cultural, respeitando seu ritmo, sem queimar etapas. O desenvolvimento das linguagens não pode estar focado unicamente na linguagem escrita, mas na oralidade, na interlocução. É preciso propiciar a criança situações em que a escrita se torne elemento de seu pensamento, o que requer o desenvolvimento de diversas habilidades, que não podem ser negadas nessa fase, levando-as a se inserir com competências no mundo social.
        O município de Caém trata do desenvolvimento das linguagens na Educação Infantil, da creche a pré-escola partindo das relações reais nas interações entre sujeitos, criança x criança; criança e adultos; criança e os diversos materiais, espaços e situações sociais, criando conexões dos processos neurológicos e de uma suave evolução de habilidades básicas como percepção, esquema corporal, lateralidade, etc. 
        Não se trata de negar o contato com a leitura e escrita, mas da concepção de leitura e escrita que se tem, mas das concepções de alfabetização e de que cidadão se pretende formar. Se pensarmos na alfabetização processo de decifrar signos, de decodificação, a inserção da criança no mundo das linguagens estará reduzida ao ato de arquivamento na memória de letras, sílabas, sons e decifração de cópias mecanicamente, de forma passiva, sem interação, sem o lúdico, a brincadeira que lhes garante significado.
        Concebemos a inserção da criança nas linguagens nas concepções de apregoados por Vygotsky e Piaget, “a aprendizagem se realiza em uma relação interativa entre o sujeito e a tradição em que vive “. O que significa que os processos cognitivos se desenvolvem em situações de uso social, com intervenções didáticas pelas quais as crianças levantam hipóteses sobre o sistema de leitura e escrita; hipóteses essas que irão nortear o ensino da linguagem escrita na escola, de forma significativa a partir de suas vivências dentro e fora do espaço escola, no jogo, na brincadeira, na contação de histórias, no reconto, no desenho e tantas outras formas de expressão e linguagens da criança. 
        O processo de leitura acontece até mesmo antes do contato com o texto e vai além dele. Acontece no diálogo do leitor como uma finalidade lida, seja escrito ou sonoro, seja um gesto, uma figura, um acontecimento, uma música, um gesto; esse diálogo não se dá na obrigação de decodificar letras e sílabas, mas nos desafios das situações vivenciadas, no prazer das descobertas.
        Esse processo de leitura pode ser iniciado ainda com os bebês, o livro passa a ser um brinquedo nas mãos da criança. Através da leitura sensorial, da exploração do ouvido, da visão, o tato, o olfato ou o paladar, despertando o prazer, dando vazão a curiosidade, ao poder inventivo da criança, criando possibilidades de conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se, enfim de aprender a aprender, de aprender a conviver, de aprender a ser; ser gente, ser feliz.
    As linguagens são bens culturais e não podem ser reduzidos a memorização mecânica de letras sílabas e números, como diz Mello: a “[...] exploração das distintas linguagens como forma de expressão da criança: ler e produzir imagens, cantar e dançar, dramatizar, pintar, desenhar, movimentar-se no espaço, assim como produzir linguagem escrita e falada”.
       Diante do posto o ensino de linguagens na educação infantil perpassa pelas brincadeiras e interação, tendo em vista o desenvolvimento dos direitos de aprendizagem: conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se, com foco no uso social da língua.
    A inserção dessa criança no mundo da leitura e da escrita se dá pelo contato diário com livros, revistas, histórias em quadrinhos, jornais, panfletos, na diversidade de tipos, gêneros e suportes textuais, por meio de atividades de leitura realizada pelo adulto, escrita na presença da criança, quando necessário, incentivo a escrita espontânea em diversas situações criadas pelo professor, situações de produção de texto pelas crianças, sendo o professor o escriba, entre outras.
       O desenvolvimento do pensamento e da linguagem não se dá naturalmente, precisam ser ensinados. É preciso que o professor planeje atividades de contação de história, estando atento para o espaço adequado para interações, materiais criativos. É importante explorar a história narrada em rodas de conversa partindo de perguntas norteadoras para que as crianças pensem sobre a história, identifiquem personagens, o cenário, o enredo, desenvolvendo a compreensão da história.
        A criança precisa despertar para os aspectos sonoros da fala e da escrita, para tanto, o professor deverá oferecer atividades com jogos, música, dança, rimas, explorar diferentes recursos sonoros em diversos ambientes, para que desenvolvam a consciência fonológica, sem que sejam treinados mecanicamente a memorizar famílias silábicas, mas que vivenciem situações que favoreçam a apropriação do sistema de escrita, de maneira prazerosa e significativa.
        Para Aquino (2007):

A capacidade de refletir sobre os sons da fala e identificar seus correspondentes gráficos é extremamente necessária no período inicial do desenvolvimento da leitura e da escrita, ou seja, a consciência fonológica pode ser encarada como um facilitador para a aquisição da escrita e precisa ser contemplada em diferentes atividades (jogos, leitura e exploração de textos rimados, etc.) desde a Educação Infantil. (AQUINO, 2007, p. 06)

     A criança precisa estar exposta a ambientes e situações ricas de aprendizagem que favoreçam o desenvolvimento de habilidades para sua inserção no mundo da leitura e da escrita.
     Todas as experiências educacionais na Educação Infantil devem estar voltadas à garantia dos Direitos de Aprendizagem organizados e concretizados nos Campos de Experiências, norteados pelos Eixos Brincadeiras e Interações.
    Os campos de experiência são arranjos curriculares que propõe a integração de saberes articulados entre si em situações concretas no cotidiano das crianças permeando os conhecimentos no seu contexto cultural e social.
    Os objetivos de aprendizagem apresentam comportamentos, habilidades, conhecimentos essenciais para os quais e faz necessário uma organização sistematizada no planejamento escolar de práticas pedagógicas e estratégias metodológicas que contemple todos os direitos de aprendizagem em seus campos de experiência.   
      Na organização das práticas pedagógica é importante que o professor considere os hábitos e aspectos culturais do contexto infantil local, inclusive escutando a criança como forma de garantir a continuidade e a ludicidade nas atividades propostas.
      É necessário que desenvolva estratégias metodológicas promovendo possibilidades das mais diversas de interação: (criança/crianças; professor (e outros profissionais da instituição)/criança e crianças entre si); de escolhas e produção pelas crianças; de escuta e respeito aos seus interesses e ritmos; de diálogo e negociação; diversidade de brincadeiras, situações desafiadoras envolvendo formas diferentes de representação (em diversas linguagens) que incentivem a ação criativa e exploratória das crianças.

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